Pedaços de qualquer coisa - O poema rasgado....na tela preenchida

terça-feira, maio 22, 2007

Urinois de inspiração(ou não)



Estava nesta tarde de Primavera chuvosa...tomando café com o meu amigo pintor e ilustrador Flávio Silvestre. A jeito de desabafos da vida artística, conclui-se o desagrado geral pelo rumo das artes plásticas em Portugal...quando o meu amigo dispara neste sentido. "O Duchamp com o seu urinol assassinou a arte".

Posições no tabuleiro de xadrez, sem medos, assim devemos começar por algum lado, é assim que Minrol também se iniciou...ideias em comum...para chegar a um propósito, que arte deve (como um colega nosso diz), ser um género de comunicação acima de qualquer meio de comunicação. Se é verdade que o urinol de Duchamp conectado com o dadaísmo veio abrir os horizontes para muitos artistas e suas formas de expressão, por outro lado em algumas épocas (e ainda muito recentemente) existem coisas que assumem características inquestionáveis logo à partida, não havendo qualquer tipo de espaço para que se formulem critérios, estes na maioria dos casos(e ainda dentro da nossa conversa de café) baseados naquilo que se chama de “Assinatura”, há que prevalecer a arte pela arte e não a arte pela sua assinatura.
Fica o desenho da peça expectante no tabuleiro.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é..
É verdade que "Marcel Duchamp com um urinol assinou arte" mas essa constatação é demasiado redutora e não faz jus ao contributo de Marcel Duchamp na história da Arte. Essa frase remeteu-me para a velha e satirizada história da descoberta do ovo de Colombo.
Duchamp com a criação dos readymade como “a fonte” (1917/1964) [mais conhecido por urinol]; a “roda da bicicleta” (1913/1964); “escorredor” (1914/1964); “com barulho secreto” (1916) entre outros, veio abrir um questionário a todos os “dogmas” do mundo da arte: o conteúdo e a significação do objecto artístico; a postura do criador; a legitimação ou validade da categoria de “obra- de-arte”. Foi, de facto, uma figura que marcou pela sua desconcertante presença quer como pessoa quer como artista. Ele foi praticamente pioneiro de todos os concomitantes movimentos do século XX. Muito haveria a dizer deste da genialidade de Duchamp, mas fico-me pela seguinte frase: Marcel Duchamp mais do que escrever o seu nome num urinol, fez um xeque-mate à arte.

5:55 da tarde

 
Blogger ppalrao said...

Demorei algum tempo a preparar a minha resposta ao teu comentário. Considero-o de todo bastante produtivo para a minha reflexão. Contudo, gostava de salientar que a minha posição relativamente ao comentário do meu colega Flávio, foi apenas de lançar um debate que acho sem dúvida essencial e ao mesmo tempo silenciosamente perturbante para quem observa e vive as transformações artísticas dia a dia. Volto a frisar que a obra de Duchamp veio abrir horizontes para imensos artistas e influenciar movimentos. Pego também na tua frase...final, e digo que acaba por ser todos os artistas relacionados com as vanguardas que efectuam esse xeque-mate, sendo que a questão fulcral não é essa. A intenção subliminar deste assunto, reside apenas numa questão incontornável, a da intenção do artista. Hoje em dia pratica-se o "ser artistas" com a "obra" porque sim, porque é"arte". Já nem falo na sociedade e nas galerias de arte, montras em mutação constante do que melhor a arte representa. É muito fácil "ser artista", é muito fácil "assinar urinóis"...isto depois de alguém o ter feito, tal como o Colombo ter colocado o Ovo em pé amachucando a ponta...é esse o sentido da frase do meu colega.
Parabéns pela tua resposta:)

9:49 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

Compreendo perfeitamente a importãncia que o Senhor Duchamp deixou na arte, e respeito, no entanto não deixo de reparar na maneira como as suas influências acabaram por provocar um "descambar" no meio artístico. Irrita-me o facto da obra em si não ser muito valorizada, hoje em dia sinto que o mais importante é o bom nome e não o conteúdo da arte. Cresci a acreditar que a arte é uma forma superior de comunicação, a obra tem de falar por si mesmo, como uma linguagem universal, desprovida de qualquer tipo de "manual de instruções" cheio de teorias e muitas palavras cheias de requinte que não querem dizer nada. Gostava que as coisas fossem mais simples, mais directas e mais belas. sinto que tive a minha primeira discussão com a arte, não nos falamos à algum tempo.
Este comentário não deixa de ser uma opinião pessoal.

Gostei do debate ^_^

7:37 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

Sr Silvestre,

Compreendo o que queres dizer com "o descambar do meio artístico", mas porque assinalas esse "descambar" depois do contributo de duchamp da arte? Achas que se ele não tivesse existido que a arte não caminharia nessa tua percepção de uma certa libertinagem da arte “ em tudo é permitido"..
O sh. Duchamp realmente veio agitar o conceito de arte, e ele, mais do ninguém pretendeu fazer uma apologia ao valor da obra de arte em si. Não pelo caminho mais fácil e convencional, mas pela dialéctica do choque para nos levar à questão. "A fonte" não é um urinol assinado, é uma intenção, uma indagação de alguém que se calhar como tu também sentia esse desconforto relativo às questões essenciais que envolvem e valorizam(ou não) a obra de arte e o processo artístico.
De todas as formas, é interessante notar que todos os artistas nalguma fase da vida se zangam e cortam temporariamente relações com a arte (seja lá, o que isso for)... mas isso é positivo. é vivê-la e senti-la! Estou plenamente de acordo de que a arte é uma forma de comunicação superior, a sua linguagem é muito especial porque aguça-nos os sentidos, sensibilidades e suscita refexões...como esta!

6:38 da manhã

 

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